23 de dezembro de 2008

Tornei-me Flor

Meus pensamentos todos brotam
De algum lugar dentro do corpo meu;
Emanam, encharcando meu coração
Que, então, embevecido sonha.
Minha alma sofre garfadas à sua flor,
E anseia ver o sol como anseia um girassol.
Corações não podem pensar.
Todos os que pensam amam.
E a alma sofre dores desmedidas
E mais não voa, fica quieta,
Como pássaro que bem não lida com a liberdade.
Na verdade, meu coração pensou em você,
Lançou-se ao limbo, meu coração menino.
Amei por desocupação, por pensar em vão.
Amei por ceticismo, ou distração?
Tornei-me flor,
Vitória Régia em suas águas.
Quando ao luar, inebriada,
Feliz. Só ao luar.

16 de dezembro de 2008

Quarto e Sala

Acostumei a viver sem espaço,
Acostumei a entregar o meu território.
A rotina fez-se amiga minha,
Às mazelas já me afeiçoei.
Tornei-me um quarto e sala,
Até as moscas me sabem bem.
Vou pra lá e pra cá, mas sempre
Estou no mesmo lugar.
Nem meus suspiros são meus,
Ou meus os muitos ais.
Mas acostumei, me entreguei
Ao completo mutismo interior;
Minha alma só balbucia, mais não quer.
Toda a falta de espaço meu
É espaço desmedido, agoniado.
Perdi-me dentro do corpo meu,
E vivo a ricochetear.
Eu digo:
Roubaste meus sonhos ao saíres,
E a cada um dos teus perdeste,
Quando presto saíste de mim.
Fui eu, e foste tu levado.
Não haverá celebração, nem beijos e felicidade.
Quando a porta fechaste e
Deste as costas pro meu olhar,
Decretaste a perdição da nossa paz;
As trevas alcançaram-me os sentidos,
E os sentidos teus.
Eu não sei sustentar mentiras;
Não vou negar: te amo.
Desde ontem,
Continuo hoje o que ontem fiz.
Eu quero morrer. Ir além. Transcender.
E, confesso, de ti fugir.

14 de dezembro de 2008

Jogando a Toalha

Dentro da minha cabeça tenho-o contornado,
Feito voltas e fechado os olhos para não vê-lo;
E quanto mais o nego em mim,
Mais você existe como uma torre;
Eu o avisto de dentro de todos os lugares do meu corpo,
Espalho-me, beirando a alucinação,
Esqueço o amor que por mim deveria ter,
E transformo pensar em sinônimo de você.
Perdeu-se seu cheiro em algum espaço dentro do meu espaço.
É você o minotauro do meu labirinto,
E a boca que me acordaria do sono profundo.
Apenas o amor não sorriu pra mim,
Apenas não sei o que fazer com você.
Tudo bem, eu não vou ser manhosa para o amor;
Vou fazer-me forte como só os fracos podem ser.
Amanhã bem cedo, junto à aurora,
Vou receber a brisa no rosto, e de algum jeito ou maneira,
À beira mar vou tirar você de mim.
Tudo bem, nalgum lugar do meu corpo, sempre
Haverá um ponto, uma cicatriz. Quem sabe?
A seqüela visível do amor que não me amou.

13 de dezembro de 2008

Eu Fui Maria

Desculpe. Eu só sei ser assim, ruim.
Por isso prendo minhas presas
No próprio corpo meu.
Inoculo meu veneno e caio. Sempre aturdida.
Sem festa -- eu sou assim.
Desculpe, mas, se alguém tiver que sofrer serei eu.
Ainda sou canhota pra felicidade.
E o canto que me embala é o da dor agoniada.
Eu sou feliz à minha maneira, não se preocupe.
Eu fui Maria. Maria Helena, Maria Luiza, Maria Antônia,
Maria Carolina, Maria Agoniada, Maria Só.
E as Marias são felizes como podem, eu aprendi.
Desculpe, um laço de fita azul,
Meus olhos, -- que são verdes, e o pão de cada dia, me bastam.
Eu vou assim, de pé ante pé, não muito perto,
Pra não espantar meus companheiros de caminhada.
Não se preocupe comigo,
Eu aprendi a chorar, antes de sorrir.
Eu vi a desgraça e depois conheci a graça.
Desculpe. E não se preocupe...
Eu vou assim.