16 de dezembro de 2008

Quarto e Sala

Acostumei a viver sem espaço,
Acostumei a entregar o meu território.
A rotina fez-se amiga minha,
Às mazelas já me afeiçoei.
Tornei-me um quarto e sala,
Até as moscas me sabem bem.
Vou pra lá e pra cá, mas sempre
Estou no mesmo lugar.
Nem meus suspiros são meus,
Ou meus os muitos ais.
Mas acostumei, me entreguei
Ao completo mutismo interior;
Minha alma só balbucia, mais não quer.
Toda a falta de espaço meu
É espaço desmedido, agoniado.
Perdi-me dentro do corpo meu,
E vivo a ricochetear.
Eu digo:
Roubaste meus sonhos ao saíres,
E a cada um dos teus perdeste,
Quando presto saíste de mim.
Fui eu, e foste tu levado.
Não haverá celebração, nem beijos e felicidade.
Quando a porta fechaste e
Deste as costas pro meu olhar,
Decretaste a perdição da nossa paz;
As trevas alcançaram-me os sentidos,
E os sentidos teus.
Eu não sei sustentar mentiras;
Não vou negar: te amo.
Desde ontem,
Continuo hoje o que ontem fiz.
Eu quero morrer. Ir além. Transcender.
E, confesso, de ti fugir.